SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
O
presente texto aborda questões relacionadas à Deficiência Múltipla e a
Surdocegueira. ORELOVE e SOBSEY (2000), definem à Deficiência Múltipla. MCINNES
(1999), define a surdocegueira e a destaca em quatro categorias.
De
acordo com a Lei nº 7. 853, de 24 de outubro de 1989 a Deficiência Múltipla
define-se como a associação, na mesma pessoa, de duas ou mais deficiências,
sejam elas: intelectual, visual, auditiva e física, com comprometimentos que
acarretam consequências no seu desenvolvimento global ou na capacidade
adaptativa.
Segundo
ORELOVE e SOBSEY (2000), as pessoas com deficiência múltipla são indivíduos com
comprometimentos acentuados no domínio cognitivo, associados a comprometimentos
no domínio motor ou sensorial ( visão e audição).
De
acordo com o MEC (2006), o termo deficiência múltipla tem sido usado para
caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas. No contexto da
escola comum apontaremos casos reais da escola comum:
·
Deficiência Física e Deficiência Intelectual;
·
Deficiência Visual e Paralisia Cerebral;
·
Deficiência Auditiva e Paralisia Cerebral;
·
Deficiência Visual e Deficiência Intelectual;
·
Deficiência Visual e Autismo;
·
Deficiência Auditiva e Autismo
·
Deficiência Auditiva e Deficiência Intelectual.
As
etiologias da deficiência Múltipla são de condição congênita ou adquirida. As
causas podem ser de ordem pré-natais, peri-natais e pós-natais.
Pré-natais:
eritroblastose fetal (incompatibilidade RH), microcefalia, citomegalovírus,
herpes, sífilis, AIDS, toxoplasmose, drogas, álcool, rubéola congênita.
Síndromes como Charge, Lennox-Gaustaut, entre outras.
Peri-natais:
prematuridade, falta de oxigênio, medicação ototóxica, icterícia.
Pós-natais:
efeitos colaterais de tratamentos como: oxigenoterapia, antibioticoterapia,
sarampo, caxumba, meningite, diabetes. Aparecimento tardio de características
de síndromes como distúrbios visuais de Wolfram, Usher e Alport (Retinose Pigmentar).
Acidentes, traumatismo craniano, intoxicação química, irradiações, tumores e
outras.
NUNES
(2002), destaca sobre as necessidade básicas das pessoas com deficiência
múltipla e exemplifica em três blocos:
Necessidades físicas e médicas:
·
A Paralisia Cerebral compromete a postura e
a mobilidade. Os movimentos são limitados em termos quantitativos e
qualitativos; limitações sensoriais visuais e auditivas; convulsões; controle
respiratório e pulmonar; problemas com deglutição e mastigação e saúde mais
frágil com pouca resistência física.
Necessidades emocionais de:
·
Afeto; atenção; oportunidade de interagir
com o meio e com o outro; desenvolver relações sociais e afetivas e estabelecer
relação de confiança.
Necessidades educativas devido a:
·
Limitações no acesso ao ambiente;
·
Dificuldades em dirigir atenção para
estímulos relevantes;
·
Dificuldades na interpretação da informação
e dificuldades na generalização.
Para
MCINNES
(1999), a surdocegueira é uma deficiência única que requer abordagem específica
para favorecer a pessoa com surdocegueira e um sistema para dar este suporte. O
autor divide as pessoas com surdocegueira em quatro categorias:
·
Pessoas que eram cegas e se tornaram
surdas;
·
Pessoas que eram surdas e se tornaram
cegas;
·
Pessoas que se tornaram surdocegas;
·
Pessoas que nasceram ou adquiriram
surdocegueira precocemente, ou seja, não tiveram a oportunidade de desenvolver
linguagem, habilidades comunicativas ou cognitivas nem base conceitual sobre a
qual possam construir uma compreensão de mundo.
O
mesmo autor destaca a surdocegueira congênita e a surdocegueira adquirida.
Dependendo da idade em que a surdocegueira se estabeleceu pode-se classificar
em Surdocegos Pré-Linguísticos ou Surdocegos Pós-Linguísticos. Seja congênita ou adquirida a limitação, os
surdocegos dependerão sempre de métodos especiais de comunicação.
A comunicação com pessoas que adquirem a surdocegueira após
ter uma língua é muito diferente da utilizada pelas pessoas com surdocegueira
congênita, já possuem um nível de pensamento simbólico e “costumam conservar a
linguagem no transcorrer de suas vidas, caso não aconteçam circunstâncias
especiais”. Os sistemas de comunicação são diversos e geralmente envolvem a(s)
mão(s) da pessoa com surdocegueira e de seu interlocutor ou guia-intérprete.
Podem ser divididos em alfabéticos e não alfabéticos, se incluírem ou não a
leitura-escrita de qualquer tipo e dependem para o seu ensino e uso, de condições
e aprendizagens anteriores.
O mesmo autor coloca
que, indivíduos com surdocegueira demonstram dificuldade em observar,
compreender e imitar o comportamento de membros da família ou de outros que
venham entrar em contato, devido à combinação das perdas visuais e auditivas
que apresentam. Sua comunicação inicial é pelo movimento corporal e
vocalizações. Precisam aprender por rotinas organizadas. O autor destaca que a
comunicação e o posicionamento favorecem a autonomia e independência da pessoa
com surdocegueira.
Antes de
selecionar o sistema ou sistemas mais apropriados para cada caso de
surdocegueira, é impressindível a realização de uma avaliação dos possíveis
resíduos visuais e/ou auditivos e do nível de linguagem alcançado. Para isso é
importante avaliar: o momento de aparecimento da surdocegueira; a idade da pessoa; o nível
educacional alcançado; os resíduos visuais e/ou auditivos; a aceitação da nova
condição e o ambiente familiar.
A escolha do Sistema de Comunicação deve levar em conta a
individualidade da pessoa com surdocegueira, seu diagnóstico, seus
interesses, experiências e conhecimentos.
Sistemas Alfabéticos:
·
Alfabeto “Datilológico”:
Formam-se as letras do alfabeto por meio de diferentes
posições dos dedos da mão.
É similar ao alfabeto manual das pessoas surdas,
com algumas variações para uma
melhor percepção tátil ao ser soletrado na palma da
mão.
·
Alfabeto de
escrita manual:
Consiste em
usar o dedo índice da pessoa com surdocegueira como lápis, para escrever cada
letra sobre uma superfície do corpo (palma da mão) ou sobre um material
externo; também se aplica usando a mão do interlocutor para escrever cada letra
e a pessoa com surdocegueira colocando sua mão sobre a mão de quem escreve
sobre a superfície.
·
Placas
Alfabéticas:
Existem dois
modelos de tabelas que tem as letras ordinárias escritas em maiúscula e outra
em tinta ou Braille (com a letra correspondente sobre cada símbolo); o processo
consiste em que o interlocutor vai indicando cada letra para formar uma palavra
com o dedo da pessoa surdocega e serve tanto para transmitir mensagens como para
a recepção tátil, colocando o dedo índice sobre cada letra procurada.
·
Meios
Técnicos com saída em Braille: São máquinas utilizadas pela pessoa
com surdocegueira que conhece o Sistema Braille.
·
Sistemas não
alfabéticos: Língua
sinais:
Fundamenta-se na construção de sinais a partir de diferentes
posições, configuração de mãos, especialmente os que representem palavras,
números e outros códigos. É comumente usada pela pelas pessoas surdas.
·
Tadoma:
Consiste na percepção da posição
dos órgãos fonoarticuladores que são os que produzem a fala (boca, bochechas,
garganta) nas pessoas, para que sintam as vibrações e as diferentes posições
que estes órgãos adquirem para a produção da linguagem oral.
Estratégias utilizadas para a aquisição de
comunicação da pessoa com surdocegueira:
·
Interesses
Individuais:
Permitir à criança escolher tantas vezes como lhe
seja possível, a imitação de ações específicas dentro de um contexto
determinado; esta conduta pode ser considerada como um sinal.
·
Compensar a
perda dos sentidos à distância:
Permitir a
manipulação do ambiente com pequenos movimentos, o que implica ajudar a criança
no reconhecimento de pessoas familiares por meio da exploração tátil e visual.
·
Responder às
tentativas de comunicação:
As crianças
realizam tentativas de comunicação por meio de formas muito simples, estas
tentativas devem ser respondidas e podem chegar a se transformar em forma de
comunicação não verbal intencional.
·
Consistência:
As rotinas consistentes e estruturadas ajudam a
criança surdocego e multideficiente a antecipar os próximos eventos.
·
Proporcionando
contingências:
A
contingência no conhecimento ou consciência de que uma ação é importante para
dar ênfase às relações entre os comportamentos e seus efeitos.
·
Criando a
necessidade de se comunicar:
Devem ser
criadas situações onde a criança tenha que interagir para poder participar e
obter a atividade desejada.
·
Introduzindo
um tempo de espera nas respostas:
A criança surdocega é multideficiente precisa de mais
tempo para responder.
·
Estabelecer
uma vizinhança cooperativa social:
Devem ser criadas situações que
envolvam duas ou mais pessoas que implique uma participação recíproca ou onde
seja necessário cumprir turnos e mantê-los; turnos com rotinas diárias e a
oportunidade de interagir com crianças menos limitadas ou que não tenham
limitações.
·
Incrementar
as expectativas comunicacionais:
Incrementar
a comunicação não simbólica a partir de uma variedade de situações diárias.
Objetos de Referências: São objetos que têm significados especiais, os quais têm a função de substituir a palavra e, assim, podem representar pessoas, objetos, lugares, atividades ou conceitos associados a eles, segundo e Maia et al (2008).
Objetos de Referências: São objetos que têm significados especiais, os quais têm a função de substituir a palavra e, assim, podem representar pessoas, objetos, lugares, atividades ou conceitos associados a eles, segundo e Maia et al (2008).
Objeto de Referência das Atividades: Um boné, por exemplo, pode ser, para um estudante
com surdocegueira, um objeto que antecipa a atividade de orientação
e mobilidade.
Caixas de Antecipação: As caixas de antecipação devem ser utilizadas com
crianças que ainda não têm nenhum sistema formal de comunicação.
Ela permite conhecer os primeiros objetos de referência que
anteciparão as atividades e o conhecimento das primeiras palavras.
Caixas de Antecipação com identificação
dos objetos de referência da aluna e com os objetos de referência das
atividades: Objetos
concretos colados em placas de madeira (escova de dente, chaveiro, miniatura
de uma jarra, saboneteira e peça de um jogo)
Calendários: Os calendários são instrumentos que favorecem o
desenvolvimento da noção de tempo e que ajudam os alunos a
estabelecer e compreender rotinas.
As
pessoas com deficiência múltipla e surdocegueira apresentam necessidade especiais
específicas. O corpo é a realidade mais imediata do ser humano. A partir e por
meio dele o homem descobre o mundo e a si mesmo. Favorecer o desenvolvimento do
esquema corporal da pessoa com deficiência múltipla e surdocegueira é de
extrema importância. O trabalho com o estudante com Deficiência Múltipla e
Surdocegueira implica em constante interação com o meio no qual vive. O
processo de interação e aprendizagem é prejudicado quando as informações
sensoriais e a organização do esquema corporal são deficitárias. Prever a
estimulação e a organização desses meios de interação com o mundo deve fazer
parte do Plano de AEE na Sala de Recursos Multifuncionais.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
AMARAL, L.; DUARTE,
F.; GONÇALVES, A.; NUNES, C.; SARAMAGO, A. Avaliação
e Intervenção em Múltipla deficiência. Centro de Recursos para a
Multideficiência. Ministério da Educação. Direcção Geral de Inovação e de
Desenvolvimento Curricular. Direção de Serviços de educação Especial e Apoio
Sócio-Educativo. Lisboa, 2004.
BRASIL. Secretaria
de Educação Especial Saberes e Prática da Inclusão: dificuldades de comunicação e sinalização: surdocegueira/múltipla
deficiência sensorial – MEC/SEESP, 2ª Ed. Brasília: MEC/SEEP, 2003.
BRASIL. Ministério
da Educação. Secretaria de educação especial. Educação Infantil Estratégias e
orientações pedagógicas para a educação de crianças com necessidades
educacionais especiais. Dificuldades Acentuadas
de aprendizagem. Deficiência Múltipla. Brasília: MEC/SEESP, 2002.
MCINNES, J. M.
Deaf-blind infants and children: A development guide. Toronto, Ontário, Canadá:
University of Toronto Press, 1999.
As fotos a seguir mostram uma brilhante história de superação.
Claúdia Sofia Indalécio Pereira, 43 anos, é surdocega, Presidente da
Associação Brasileira de Surdocegos; a sua voz é
o mote de uma importante história de superação. Claúdia nasceu com problemas auditivos progressivos e depois percebeu-se a Retinose Pigmentar, que mais tarde a levaria à cegueira. Seu diagnóstico é de Síndrome de Usher, mas seu prognóstico é de felicidade.
Claudia usa o Tadoma que consiste na percepção da posição dos órgãos fonoarticuladores que são os que produzem a fala nas pessoas, para que sintam as vibrações e as diferentes posições que estes órgãos adquirem para a produção da linguagem oral.
A última foto mostra o Alfabeto de escrita manual:
Consiste em usar o dedo índice da pessoa com surdocegueira como lápis, para escrever cada letra sobre uma superfície do corpo (palma da mão) ou sobre um material externo; também se aplica usando a mão do interlocutor para escrever cada letra e a pessoa com surdocegueira colocando sua mão sobre a mão de quem escreve sobre a superfície.
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