sexta-feira, 2 de maio de 2014

SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA

SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA

O presente texto aborda questões relacionadas à Deficiência Múltipla e a Surdocegueira. ORELOVE e SOBSEY (2000), definem à Deficiência Múltipla.  MCINNES (1999), define a surdocegueira e a destaca em quatro categorias.
De acordo com a Lei nº 7. 853, de 24 de outubro de 1989 a Deficiência Múltipla define-se como a associação, na mesma pessoa, de duas ou mais deficiências, sejam elas: intelectual, visual, auditiva e física, com comprometimentos que acarretam consequências no seu desenvolvimento global ou na capacidade adaptativa.
Segundo ORELOVE e SOBSEY (2000), as pessoas com deficiência múltipla são indivíduos com comprometimentos acentuados no domínio cognitivo, associados a comprometimentos no domínio motor ou sensorial ( visão e audição).
De acordo com o MEC (2006), o termo deficiência múltipla tem sido usado para caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas. No contexto da escola comum apontaremos casos reais da escola comum:
·         Deficiência Física e Deficiência Intelectual;
·         Deficiência Visual e Paralisia Cerebral;
·         Deficiência Auditiva e Paralisia Cerebral;
·         Deficiência Visual e Deficiência Intelectual;
·         Deficiência Visual e Autismo;
·         Deficiência Auditiva e Autismo
·         Deficiência Auditiva e Deficiência Intelectual.
As etiologias da deficiência Múltipla são de condição congênita ou adquirida. As causas podem ser de ordem pré-natais, peri-natais e pós-natais.
Pré-natais: eritroblastose fetal (incompatibilidade RH), microcefalia, citomegalovírus, herpes, sífilis, AIDS, toxoplasmose, drogas, álcool, rubéola congênita. Síndromes como Charge, Lennox-Gaustaut, entre outras.
Peri-natais: prematuridade, falta de oxigênio, medicação ototóxica, icterícia.
Pós-natais: efeitos colaterais de tratamentos como: oxigenoterapia, antibioticoterapia, sarampo, caxumba, meningite, diabetes. Aparecimento tardio de características de síndromes como distúrbios visuais de Wolfram,  Usher e Alport (Retinose Pigmentar). Acidentes, traumatismo craniano, intoxicação química, irradiações, tumores e outras.
NUNES (2002), destaca sobre as necessidade básicas das pessoas com deficiência múltipla e exemplifica em três blocos:
Necessidades físicas e médicas:
·         A Paralisia Cerebral compromete a postura e a mobilidade. Os movimentos são limitados em termos quantitativos e qualitativos; limitações sensoriais visuais e auditivas; convulsões; controle respiratório e pulmonar; problemas com deglutição e mastigação e saúde mais frágil com pouca resistência física.
Necessidades emocionais de:
·         Afeto; atenção; oportunidade de interagir com o meio e com o outro; desenvolver relações sociais e afetivas e estabelecer relação de confiança.
Necessidades educativas devido a:
·         Limitações no acesso ao ambiente;
·         Dificuldades em dirigir atenção para estímulos relevantes;
·         Dificuldades na interpretação da informação e dificuldades na generalização.
Para MCINNES (1999), a surdocegueira é uma deficiência única que requer abordagem específica para favorecer a pessoa com surdocegueira e um sistema para dar este suporte. O autor divide as pessoas com surdocegueira em quatro categorias:
·         Pessoas que eram cegas e se tornaram surdas;
·         Pessoas que eram surdas e se tornaram cegas;
·         Pessoas que se tornaram surdocegas;
·         Pessoas que nasceram ou adquiriram surdocegueira precocemente, ou seja, não tiveram a oportunidade de desenvolver linguagem, habilidades comunicativas ou cognitivas nem base conceitual sobre a qual possam construir uma compreensão de mundo.
O mesmo autor destaca a surdocegueira congênita e a surdocegueira adquirida. Dependendo da idade em que a surdocegueira se estabeleceu pode-se classificar em Surdocegos Pré-Linguísticos ou Surdocegos Pós-Linguísticos. Seja congênita ou adquirida a limitação, os surdocegos dependerão sempre de métodos especiais de comunicação.
A comunicação com pessoas que adquirem a surdocegueira após ter uma língua é muito diferente da utilizada pelas pessoas com surdocegueira congênita, já possuem um nível de pensamento simbólico e “costumam conservar a linguagem no transcorrer de suas vidas, caso não aconteçam circunstâncias especiais”. Os sistemas de comunicação são diversos e geralmente envolvem a(s) mão(s) da pessoa com surdocegueira e de seu interlocutor ou guia-intérprete. Podem ser divididos em alfabéticos e não alfabéticos, se incluírem ou não a leitura-escrita de qualquer tipo e dependem para o seu ensino e uso, de condições e aprendizagens anteriores.
O mesmo autor coloca que, indivíduos com surdocegueira demonstram dificuldade em observar, compreender e imitar o comportamento de membros da família ou de outros que venham entrar em contato, devido à combinação das perdas visuais e auditivas que apresentam. Sua comunicação inicial é pelo movimento corporal e vocalizações. Precisam aprender por rotinas organizadas. O autor destaca que a comunicação e o posicionamento favorecem a autonomia e independência da pessoa com surdocegueira.
Antes de selecionar o sistema ou sistemas mais apropriados para cada caso de surdocegueira, é impressindível a realização de uma avaliação dos possíveis resíduos visuais e/ou auditivos e do nível de linguagem alcançado. Para isso é importante avaliar: o momento de aparecimento da surdocegueira; a idade da pessoa; o nível educacional alcançado; os resíduos visuais e/ou auditivos; a aceitação da nova condição e o ambiente familiar.

A escolha do Sistema de Comunicação deve levar em conta a individualidade da pessoa com surdocegueira, seu diagnóstico, seus interesses, experiências e conhecimentos.
Sistemas Alfabéticos:
·         Alfabeto “Datilológico”
Formam-se as letras do alfabeto por meio de diferentes posições dos dedos da mão.
É similar ao alfabeto manual das pessoas surdas, com algumas variações para uma
melhor percepção tátil ao ser soletrado na palma da mão.
·         Alfabeto de escrita manual: 
Consiste em usar o dedo índice da pessoa com surdocegueira como lápis, para escrever cada letra sobre uma superfície do corpo (palma da mão) ou sobre um material externo; também se aplica usando a mão do interlocutor para escrever cada letra e a pessoa com surdocegueira colocando sua mão sobre a mão de quem escreve sobre a superfície.
·         Placas Alfabéticas: 
Existem dois modelos de tabelas que tem as letras ordinárias escritas em maiúscula e outra em tinta ou Braille (com a letra correspondente sobre cada símbolo); o processo consiste em que o interlocutor vai indicando cada letra para formar uma palavra com o dedo da pessoa surdocega e serve tanto para transmitir mensagens como para a recepção tátil, colocando o dedo índice sobre cada letra procurada.
·         Meios Técnicos com saída em Braille: São máquinas utilizadas pela pessoa
com surdocegueira que conhece o Sistema Braille.
·         Sistemas não alfabéticos: Língua sinais: 
Fundamenta-se na construção de sinais a partir de diferentes posições, configuração de mãos, especialmente os que representem palavras, números e outros códigos. É comumente usada pela pelas pessoas surdas.
·         Tadoma: 
Consiste na percepção da posição dos órgãos fonoarticuladores que são os que produzem a fala (boca, bochechas, garganta) nas pessoas, para que sintam as vibrações e as diferentes posições que estes órgãos adquirem para a produção da linguagem oral.        
                    
Estratégias utilizadas para a aquisição de comunicação da pessoa com surdocegueira:      
·         Interesses Individuais: 
Permitir à criança escolher tantas vezes como lhe seja possível, a imitação de ações específicas dentro de um contexto determinado; esta conduta pode ser considerada como um sinal.
·         Compensar a perda dos sentidos à distância: 
Permitir a manipulação do ambiente com pequenos movimentos, o que implica ajudar a criança no reconhecimento de pessoas familiares por meio da exploração tátil e visual.
·         Responder às tentativas de comunicação: 
As crianças realizam tentativas de comunicação por meio de formas muito simples, estas tentativas devem ser respondidas e podem chegar a se transformar em forma de comunicação não verbal intencional.
·         Consistência:                                                                                         
As rotinas consistentes e estruturadas ajudam a criança surdocego e multideficiente a antecipar os próximos eventos.
·         Proporcionando contingências: 
A contingência no conhecimento ou consciência de que uma ação é importante para dar ênfase às relações entre os comportamentos e seus efeitos. 
·         Criando a necessidade de se comunicar: 
Devem ser criadas situações onde a criança tenha que interagir para poder participar e obter a atividade desejada.
·         Introduzindo um tempo de espera nas respostas:
A criança surdocega é multideficiente precisa de mais tempo para responder.

·         Estabelecer uma vizinhança cooperativa social: 
Devem ser criadas situações que envolvam duas ou mais pessoas que implique uma participação recíproca ou onde seja necessário cumprir turnos e mantê-los; turnos com rotinas diárias e a oportunidade de interagir com crianças menos limitadas ou que não tenham limitações.
·         Incrementar as expectativas comunicacionais: 
Incrementar a comunicação não simbólica a partir de uma variedade de situações diárias.
    
Objetos de Referências: São objetos que têm significados especiais, os quais têm a função de substituir a palavra e, assim, podem representar pessoas, objetos, lugares, atividades ou conceitos associados a eles, segundo e Maia et al (2008).
    Objeto de Referência das Atividades: Um boné, por exemplo, pode ser, para um estudante com surdocegueira, um objeto que antecipa a atividade de orientação e mobilidade.
    Caixas de Antecipação: As caixas de antecipação devem ser utilizadas com crianças que ainda não têm nenhum sistema formal de comunicação. Ela permite conhecer os primeiros objetos de referência que anteciparão as atividades e o conhecimento das primeiras palavras.
     Caixas de Antecipação com identificação dos objetos de referência da aluna e com os objetos de referência das atividades: Objetos concretos colados em placas de madeira (escova de dente, chaveiro, miniatura de uma jarra, saboneteira e peça de um jogo)    
     Calendários: Os calendários são instrumentos que favorecem o desenvolvimento da noção de tempo e que ajudam os alunos a estabelecer e compreender rotinas.
As pessoas com deficiência múltipla e surdocegueira apresentam necessidade especiais específicas. O corpo é a realidade mais imediata do ser humano. A partir e por meio dele o homem descobre o mundo e a si mesmo. Favorecer o desenvolvimento do esquema corporal da pessoa com deficiência múltipla e surdocegueira é de extrema importância. O trabalho com o estudante com Deficiência Múltipla e Surdocegueira implica em constante interação com o meio no qual vive. O processo de interação e aprendizagem é prejudicado quando as informações sensoriais e a organização do esquema corporal são deficitárias. Prever a estimulação e a organização desses meios de interação com o mundo deve fazer parte do Plano de AEE na Sala de Recursos Multifuncionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AMARAL, L.; DUARTE, F.; GONÇALVES, A.; NUNES, C.; SARAMAGO, A. Avaliação e Intervenção em Múltipla deficiência. Centro de Recursos para a Multideficiência. Ministério da Educação. Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular. Direção de Serviços de educação Especial e Apoio Sócio-Educativo. Lisboa, 2004.

BRASIL. Secretaria de Educação Especial Saberes e Prática da Inclusão: dificuldades de comunicação e sinalização: surdocegueira/múltipla deficiência sensorial – MEC/SEESP, 2ª Ed. Brasília: MEC/SEEP, 2003.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de educação especial. Educação Infantil Estratégias e orientações pedagógicas para a educação de crianças com necessidades educacionais especiais. Dificuldades Acentuadas de aprendizagem. Deficiência Múltipla. Brasília: MEC/SEESP, 2002.

MCINNES, J. M. Deaf-blind infants and children: A development guide. Toronto, Ontário, Canadá: University of Toronto Press, 1999.


As fotos a seguir mostram uma brilhante história de superação. 
  Claúdia Sofia Indalécio Pereira, 43 anos, é surdocega, Presidente da Associação Brasileira de Surdocegos; a sua voz é o mote de uma importante história de superação. Claúdia nasceu com problemas auditivos progressivos e depois percebeu-se a Retinose Pigmentar, que mais tarde a levaria à cegueira. Seu diagnóstico é de Síndrome de Usher, mas seu prognóstico é de felicidade.
Claudia usa o Tadoma que consiste na percepção da posição dos órgãos fonoarticuladores que são os que produzem a fala nas pessoas, para que sintam as vibrações e as diferentes posições que estes órgãos adquirem para a produção da linguagem oral. 
A última foto mostra o  Alfabeto de escrita manual: 
Consiste em usar o dedo índice da pessoa com surdocegueira como lápis, para escrever cada letra sobre uma superfície do corpo (palma da mão) ou sobre um material externo; também se aplica usando a mão do interlocutor para escrever cada letra e a pessoa com surdocegueira colocando sua mão sobre a mão de quem escreve sobre a superfície.







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